quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Resíduo

"O tempo não cura tudo. Aliás, o tempo não cura nada, o tempo apenas tira o incurável do centro das atenções." Martha Medeiros

Depois de um silêncio breve, retorno à arruinada casa das palavras. Pois ficar calada, fazer jus ao nome que escolhi para mim, não vai me redimir da responsabilidade sobre o que eu não digo e sobre os rastros que eu deixo no mundo, ainda que sem querer.

Minha angústia sobre as coisas (não) ditas não é nada original.
Wittgenstein foi bem mais feliz nas suas reflexões sobre a incomunicabilidade: "Aquilo que não pode ser dito, deve calar- se". E ponto. Mas mesmo ele, que conhecia tão bem as impossibilidades da linguagem, admirava os que se aventuravam a escrever, aqueles que tinham coragem de dar o que ele chamava de "salto". Estou em queda livre.

Alguns acontecimentos (uns bem recentes, outros nem tanto) têm me feito pensar sobre esses
pedaços que vamos deixando no mundo e como eles podem afetar outras pessoas. Positiva ou negativamente. Tenho pensado, por exemplo, como um dos meus melhores amigos é alguém que eu jamais vi, que mora há milhas daqui, com quem só falo uma vez há cada seis meses e mesmo assim se faz presente em decisões importantes que tomo na vida. Quando ele está ausente (que é quase sempre), me alimento dos rastros que ele vai deixando pelo mundo virtual. Pequenos sinais de amor pelas pessoas, pelas cidades e por mim.
Um dia ele esteve aqui por duas horas, em uma conexão. Ele me telefonou dizendo que estava aqui. Ouvir aquela voz foi um susto...Ela não fazia parte da minha pequena coleção das delicadezas dele. Não fui ao aeroporto.


Eis o meu motivo de não acreditar que o tempo e a distância podem simplesmente apagar as coisas: Corpo ausente não é ausência. Sempre fica um pouco. Sempre fica algo por resolver, a possibilidade, o "e se". Sempre fica o que a gente abandona distraidamente por aí. E quem sabe isso não possa vir a ser importante para alguém?


São só pensamentos soltos que deixo, como migalhas de pão para encontrar o caminho de volta.

2 comentários:

  1. Pode sim, Larinha! Tens aí meus contatos! Amanhã pela manhã, entre 10h30 e 12h estarei pela UFC, CH-1,para recolher algumas doações. Querendo me encontrar,basta dar um toque!Bjs e MUITO OBRIGADA, desde já :)

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  2. acabei de ter aquela sensação de identificação medonha com o teu texto. como tu escreve bonito! :)
    ah, muito obrigada pelo zine, viu? adorei, li assim que cheguei em casa, mesmo morta de cansaço, haha..

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